Gonçalo Bernardo

Técnico da Agim
A cultura do mirtilo está a despertar um inesperado interesse em Portugal de há alguns anos a esta parte, especialmente desde 2009. Todos os meios de comunicação social têm dedicado espaços muito razoáveis a esta nova realidade da agricultura portuguesa. Com efeito, verifica-se hoje que um número muito grande de agricultores, especialmente de jovens, se está a virar para uma nova janela de oportunidade: a cultura de pequenos frutos, com grande predominância para o mirtilo.

Muito se tem dito e escrito sobre a cultura do mirtilo, nomeadamente sobre as caraterísticas do solo ideal, sobre o número de horas necessárias e úteis de frio e sobre muitas outras exigências que esta planta requer. Porém, pouco se tem divulgado sobre uma das práticas de cultivo necessária e indispensável a todas as plantas, e igualmente ao mirtilo, que é a PODA e que aqui abordarei resumidamente.

Começarei por uma definição muito simples e compreensível do que deve entender-se por poda em termos gerais: “A poda é uma operação cultural que consiste em retirar das plantas, árvores e arbustos os ramos inúteis de forma a favorecer o seu crescimento, a floração e a frutificação”.

Assim, a poda do mirtilo não se afasta muito dos princípios gerais aplicáveis a outras espécies.

É Inverno, a folha já caiu, e as plantas encontram-se agora em pleno estado de dormência. É chegada a hora de começar a poda. A poda do mirtilo tem filosofias diferentes entre técnicos e diferem de país para país. Tal facto foi notório com a vinda de dois técnicos holandeses a Sever do Vouga, no mês de Janeiro, para quem a poda se deve limitar ao essencial, pois para eles as podas severas traduzem-se em custos elevados, que podem ser compensados com uma boa fertilização. No entanto, existe consenso nos três princípios básicos seguintes:

Poda de formação

Este tipo de poda é realizado nos primeiros anos de vida da planta e começa logo na plantação. O podador deve:

– Deixar 3 a 4 ramos principais da planta;

– Eliminar todos os ramos pequenos, fracos e prostrados;

– Abrir o centro da planta.

 Poda de frutificação

É efetuada a partir do segundo ano após a 1ª colheita devendo o podador:

– Eliminar ramos doentes e prostrados;

– No final da primavera cortar ramos com crescimento elevado no terço superior (poda em verde);

– Eliminar ramos que se cruzem;

– Eliminar ramos no interior da planta;

– Nos ramos demasiado produtivos, fazer controlo da carga.

Poda de renovação

É realizada a partir do 5º/6º ano, com:

– Eliminação dos ramos com mais de 5 anos;

– Eliminar cerca de um quarto dos ramos velhos;

– O corte deve ser feito ao nível do solo.

Cada tipo de poda está mais direcionado para uma determinada idade da planta. No entanto todas elas são possíveis, complementando-se, numa determinada planta de uma determinada idade e independentemente da cultivar.
Porém, deve ter-se em consideração que existem pontos desta operação cultural que variam com a cultivar como, por exemplo, as cultivares com fraca rebentação de base, as prostradas e as que têm abundante rebentação.

Estas diferenças têm sido demonstradas nos diversos cursos que a Agim tem ministrado junto dos seus associados e em diversas associações de agricultores.